TOPO DO MUNDO - CAPÍTULO 2/4

Nervos à flor da pele... a atenção máxima exigida na primeira descida era atrapalhada pelo fundo sonoro das gargalhadas que já tínhamos começado nos primeiros momentos do trecho. Na descida deslizávamos com nossas bikes sobre cascalhos, pedras pontudas e fendas no solo que pareciam nos engolir. A tensão dos braços, aumentada pela trepidação do caminho, era quase que insuportável. Cada vitória representava repassar a responsabilidade para o próximo biker : Hard biker ou “baby” biker? Dependeria de como se sairia... Depois de minha descida heróica (falo isso pois poderia “jurar” que ia cair) dei aquela força para meu amigo André que viria atrás de mim : “Solta o freio sua galinha morta!!!”. Ah! Sei lá... falamos essas frases de efeito quando queremos que nosso amigo sinta a adrenalina da descida... ou que se estrepe... até agora não sei ao certo... O problema é que às vezes o cara leva à sério... E foi isso que aconteceu com o André. Ao ouvir essa frase ao de estranho aconteceu. Como estivesse tomado por superpoderes e pudesse voar, ele soltou o freio e como que estivesse no Titanic abriu as asas... Inacreditável! Por dois segundos achei o máximo, mas no segundo seguinte, voltando à minha lucidez, vi que o cara era totalmente “zureta”... O que aconteceu???? Aaaaahhhh... pára!! Não dá para imaginar? A bike do “caboclo”, como um touro de rodeio, deu uma trupicada e lançou nosso amigo aos ares. Aí que eu fiquei surpreso... Congele a imagem em sua cabeça... Quando estava naquele vôo para “a morte” André flexionou as pernas esticou os braços desenhando aquele pouso digno de Hollywood! Sim... ele ia conseguir! Pernas e braços num sincronismo perfeito, olhos fixos no solo, concentração total... Vai André! Você consegue! Você é o “cara”! Foi aí que... bom... vamos deixar de descrições poéticas e vamos aos fatos... André arrebentou a perna na ponta de uma pedra pontuda, saiu trupicando no morro no mesmo momento em que sua bike vinha voando e girando na sua nuca... como instinto de qualquer ser humano ficamos alguns segundos olhando aquela cena preocupados e temerosos que pior poderia ter acontecido. De repente : “ UUuuurrrúúúúúú...!!!” ???? Mas como assim??? Pois é... mal o cara tinha levantado já estávamos “zoando” ... “Boa super homem”... Tirando forças do fundo de sua alma ele ainda conseguiu falar : “Que isso galera! Não foi nada... só um raladinho...” Raladinho??? !!!” Posso quase falar com certeza de que vi um branco em sua canela que para mim era o osso da perna dele, mas como ele falou que não era... tuuuudo bem!!! Com um sorriso lacrimal pegou sua bike que parecia ter sido atropelada por um caminhão e saiu pedalando marcando o caminho com gotas de sangue... Durante os minutos seguintes de nossa pedalada fomos seguidos por urubus que insistiam em nos rondar... Risadas, gozações, azarações e muito suor... eeehhhh... o trecho começava a exigir mais do que esperávamos... Foi nessse momento que olhei para o Heberte e comecei a ficar preocupado... o cara dava reais sinais de cansaço. Achei que ele estava meio cinza, mas acho que era por causa reflexo do suor com o protetor solar... sei lá... mas os lábios estavam meio roxos... Puuutttzzzz!!! O cara vai morrer? Foi aí que vendo minha garrafinha d´água, como que suplicando balbuciou: “ô Flávio... molha minha cabecinha???” O queeeeee??? Molha minha cabecinha??? 

Bom... mas esse caso vai continuar só amanhã... Prepare-se para chorar de rir...