A presença da dor nos membros inferiores é uma queixa comum entre os ciclistas. Tal sintoma pode ser decorrente de vários tipos de lesões e levam a queda do rendimento e até do prazer em pedalar. As principais causas deste tipo de lesão são a inadequação das dimensões da bicicleta ao corpo do atleta, as variações anatômicas de quem pedala, a intensidade e duração dos treinos e a forma do treinamento.
O diagnóstico das lesões deve ser sempre feito por um médico, já que existe uma infinidade de doenças com sintomas semelhantes, algumas das quais, graves, e cujo tratamento pode ser completamente diferente. É importante, no entanto, informar ao atleta a sua condição para que melhor compreenda a lesão e os objetivos da terapia a ser empregada.
A condromalácia da patela (antiga rótula) é uma lesão da cartilagem articular deste osso devido ao excesso das forças de cisalhamento (“atrito”) entre a patela e a porção distal do fêmur durante ou após esforços repetitivos de flexão do joelho. O sintoma mais comum é a dor atrás da patela, especialmente nas subidas ou durante longos percursos com pedaladas lentas. O cisalhamento se dá devido à ação do músculo anterior da coxa (o quadríceps) que força a patela contra o fêmur para poder estender a perna no momento da pedalada. Tal compressão é maior no início da extensão. A presença de um mau alongamento da musculatura isquiotibial (posterior da coxa) é um agravante do quadro.
O tratamento se dá com medicamentos anti-inflamatórios, meios físicos e cinesioterapia e a evolução costuma ser favorável. Alguns aspectos particulares do ciclismo devem ser observados, de modo a acelerar o tratamento e prevenir novas lesões.
Na bicicleta, o problema mais comum é o selim muito baixo ou muito anteriorizado. Nesses casos, o ideal é deixar o selim em tal posição que o joelho, na parte mais baixa da pedalada, fique com 5 a 10º de flexão (considere 0º com o joelho esticado).
Algumas pessoas têm predisposição a apresentar este tipo de lesão devido ao que se chama de desalinhamento da patela, ou seja, ao invés da patela percorrer o “trilho” formado pelos côndilos do fêmur na flexão e extensão, ela tende a deslocar-se para os lados (geralmente para lateral), aumentando o atrito entre os dois ossos. As mulheres costumam ser mais susceptíveis a tal lesão pois, em geral, possuem o quadril mais largo. Como é de lá que partem os músculos que atuam sobre o joelho, há maior tendência ao deslocamento lateral. O diagnóstico do desalinhamento só pode ser feito por um ortopedista através do exame físico e radiológico.
Há exercícios específicos que atenuam o desalinhamento. Um exemplo de exercício é o fortalecimento da parte medial (interna) do quadríceps, que pode ser obtida com o atleta em pé, com os pé bem separados e os joelhos levemente fletidos. Ficando nessa posição ou estendendo o joelho e retornando à mesma posição, há o fortalecimento da musculatura. Tal exercício pode ser feito segurando-se algum peso .
A condromalácia pode surgir tanto no início da temporada devido ao seu aumento rápido quanto no final, devido ao esforço acumulado. Aumentos abruptos da quantidade de exercícios são responsáveis pela grande parte das lesões esportivas. Em ambos os casos, orienta-se exercícios leves, a 90 rpm, em superfície plana até o desaparecimento dos sintomas. Quanto ao tipo de treinamento, não é incomum atletas realizarem treinos de agachamento com peso, subir escadas ou correr na subida. Tais exercícios forçam a patela contra o fêmur, piorando a lesão e aumentando a dor.
Deve-se fazer o fortalecimento do quadríceps sem que ocorra carga excessiva na patela, evitando ao máximo exercícios em que haja grande flexão do joelho, mantendo-o com, no máximo, 30 a 45º de flexão.Um bom exemplo de exercício é fixar a própria bicicleta num cavaleta com pequena carga e moderada velocidade. Nunca esquecer do alongamento. Devemos realizá-los antes e depois de cada sessão de treino, com a musculatura relaxada, mantendo a posição por 15 a 30 segundos, com 3 a 5 repetições de cada exercício. Os principais grupos musculares que devem ser alongados são: quadríceps, isquitibiais e gêmeos (panturrilha).
Como pudemos observar, nesse tipo de lesão, não há a necessidade de afastamento completo das pedaladas. Pequenas mudanças permitem que transformemos aquilo que é a causa da lesão, num instrumento terapêutico, mantendo o prazer em pedalar.
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